paishabilitar/ Setembro 15, 2019/ Diário de Aveiro, opinião inclusiva, Uncategorized

O meu apelido é mesmo Santos, não  Paralisia Cerebral. Sou Isabel Santos

Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro

Chamo-me Isabel Santos. Tenho uma Paralisia Cerebral do Tipo Misto. Não se assustem… não quer dizer nada de especial, apenas afeta ligeiramente a minha forma de andar, falar e usar as mãos.

Aos sete meses a minha mãe começou a notar que algo não estava bem porque não me conseguia sentar. Aos oito meses a minha Paralisia Cerebral foi confirmada.  Desde então a nossa luta começou!

Atualmente, tenho uma Licenciatura em Educação Básica, um Mestrado em Ciências de Educação em Educação Especial e um Doutoramento em Multimédia em Educação pela Universidade de Aveiro. Sou a Coordenadora Executiva da Associação Pais e Amigos Habilitar. Mas é tudo tão incerto…

O meu lema sempre foi e será nunca desistir perante as adversidades que a vida proporciona. Tive e tenho um percurso pautado por adversidades. Perante tudo e todos, tenho que provar que sou capaz e ter força de vontade para ultrapassar barreiras (tantas associadas ao preconceito).  Sou resiliente e persistente para alcançar os meus objetivos. Mas acreditem, todo este caminho seria menos sofrido e mais vivido se a sociedade olhasse e visse a minha diferença com naturalidade.

Apesar dos meus trinta e dois anos e da minha formação pessoal e académica, a indiferença e o preconceito ferozes da nossa sociedade continuam a causar-me muita dor.  Deparo-me diariamente com situações em que me tratam como “coitadinha” ou como uma criança incapaz de tomar decisões, ou como alguém que não entende o que a rodeia, como se tivesse um défice intelectual … só porque ando e falo de forma diferente. NÃO ACHAM RÍDICULO, INJUSTO? Acreditem, ninguém gosta de ser visto como incapaz!

A verdade é que a nossa sociedade vive na IGNORÂNCIA… a IGNORÂNCIA de não estar atenta à diversidade; a IGNORÂNCIA de pensar que as pessoas com limitações físicas, intelectuais e/ou sociais não devem ter acesso aos direitos de qualquer outro cidadão; a IGNORÂNCIA de que as pessoas com deficiência não podem ser criativas e produtivas; a IGNORÂNCIA de que as pessoas com deficiência não podem ter um parceiro/a e constituir família; a IGNORÂNCIA de que as pessoas com deficiência não têm direito à igualdade de oportunidades, à autonomia, à  dignidade, à participação ativa na vida da comunidade e ao gozo pleno dos seus direitos e liberdades.

Afinal é a nossa sociedade que precisa de ajuda nesta sua imensa IGNORÂNCIA!

É mesmo necessário apostar na formação e sensibilização da comunidade, reconhecendo que as pessoas com deficiência não podem ser restringidas nos seus direitos de cidadania, nem os restantes cidadãos podem discriminar e/ou prescindir do seu contributo.

Somos todos seres humanos diferentes, porque somos seres únicos com caraterísticas próprias e é isso que nos permite crescer e aprender uns com os outros.

A deficiência mostra-nos a vida de uma outra perspetiva e faz-nos abraçar as oportunidades com mais força e determinação. Eu agradeço sempre a todos os que acreditam nas minhas capacidades e me relembram que O UNIVERSO É O MEU LIMITE, que tenho direitos e deveres iguais a todas as outras pessoas e, acima de tudo, o direito a ser feliz!

EU, ISABEL SANTOS, apelo diariamente à sociedade que olhe e aceite a diferença como algo natural. E sabem, o meu apelido é mesmo Santos, não é Paralisia Cerebral…

Isabel Santos

Coordenadora Executiva da APAH

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