Por que é que o mano precisa de ajuda?
Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro
Sou mãe de duas crianças. O J., portador de uma Perturbação do Neurodesenvolvimento, com 11 anos e a M., portadora de uma personalidade forte (ainda bem!), com 9 anos. Hoje, para variar, o alvo desta história é a M., a irmã.
Quando, por volta dos 5 anos, a M., habituada a ouvir as conversas em torno do irmão, perguntou: “Por que é que o mano precisa de ajuda?”, o melhor que me ocorreu responder foi: “Porque tem dificuldades”. Tão simples. Tão esclarecedor. Para uma menina de 5 anos bastou a mãe dizer “tem dificuldades”. Até hoje essa explicação tem-se revelado suficiente. Mas não anula a preocupação que a M. sente pelo irmão. Na festa de anos da L. (o J. só é convidado para as festas dos filhos dos nossos amigos, o que me leva a festejar o facto de termos muitos amigos, caso contrário não iria a festas de aniversário. Bem hajam, amigos.), a M. mandou-me, com o olhar, ajudar o irmão a apanhar os doces que caíam da pinhata, caso contrário temia que ele não arrecadasse nenhum… Nos passeios em família, finjo que o J. se orienta sozinho (é certo que do canto do meu olho não o perco de vista, mas a M. não sabe disso), sem temer carros que aparecem de onde não devem, passadeiras manhosas, bicicletas que andam por cima dos passeios, indiferentes aos outros, finjo não me preocupar….mas de repente saio do aparente torpor, despertada pela M.: “Ó mãe, olha o mano, tu és a mãe dele, tens que te preocupar, ele pode ser atropelado…”. Eu sei, filha, eu preocupo-me.
Um dia, quando a M. se achou sem ninguém para brincar, disse-me “É como se fosse filha única!”. Foi como se me atirassem ao chão, ou melhor atirassem ao chão a M. Coloquei-me dentro dela. Há dias que não devem ser nada agradáveis. Quando o J. aprendeu a nadar, a sua brincadeira preferida era manter-se debaixo de água o máximo de tempo possível. Só que o que era fonte de prazer para o J. era fonte de angústia e stress para todos, especialmente para a M. Muito chorou a M. nesse Verão, temendo que o SEU irmão se afogasse.
Minha querida M.: enquanto a mãe e o pai cá estiverem fica descansada, filha. Sê criança, adolescente e jovem adulta, inteiramente. Queremos que sejas feliz. Sabemos que quando chegar a altura de cuidares do teu irmão, pelo canto do teu olho de irmã, serás inteira. Até lá, deixa-nos cuidar de ti. Para variar.
Associação Pais e Amigos Habilitar