paishabilitar/ Janeiro 7, 2020/ Uncategorized
Mãe, na minha sala há um semáforo!
Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro
Mãe, obrigada por transformares o que eu sinto em ideias organizadas e com tanto sentido. Obrigada por me explicares o mundo, por permitires que os meus olhos alcancem mais do que os meus seis anos. Tudo o que dizes é sempre tão certo! Sabes, eu pensava que a palavra balanço era o masculino de balança, mas tu explicaste tão bem, mamã, que o balanço é algo mais, que é o que fica depois de compararmos as coisas boas e menos boas que nos acontecem. E quando disseste: “Filha, queres fazer um balanço da tua experiência na nova escola?”, eu já sabia o que querias… Decidi então estar mais atenta ao que acontece à minha volta. Para fazer um balanço a sério!
O que levei para esta nova escola foi o que aprendi em seis anos. E, sabes, tudo o que me disseste estava certo e eu estou mesmo, mesmo a gostar. Mas penso que desconhecias o semáforo da nossa sala… que deve ser parecido com os semáforos da rua porque tem as mesmas cores, o verde para seguir, o vermelho para parar e o amarelo para pensar bem.
Eu pensava que na escola devíamos seguir sempre em frente, mas com um semáforo é difícil. Ou este semáforo não é igual?
Não que eu esteja preocupada… para mim o sinal está sempre verde e eu sigo em frente. Porto-me bem, aprendo rápido e nunca, ou quase nunca, me atrapalho. Mas não é bem assim com todos… acredita, se a sala fosse a rua e os meninos fossem carros, muitos dificilmente atingiriam destino algum. Um carro que funciona faz pouco ruído e não anda aos solavancos. Mas se algo não estiver bem, anda devagar, faz mais ruído e pode deitar fumo. Pois é assim na minha sala. Alguns meninos fazem ruído, tentam avançar, mas não querem ou não conseguem. E eu penso, como podem não querer, se todos nós desejamos aprender? Como podem fazer ruído se os espera um sinal vermelho que os fará parar?
Tenho pensado sobre isto e cheguei a várias conclusões. A escola não é a rua, por isso não deve ter semáforos. (Se algum dia eu tiver uma luz amarela que seja não vou ter coragem de ver a tua reacção!) Além disso, tenho quase a certeza de que todos os meninos querem aprender. Alguns são mais distraídos e nem sempre ouvem o que a professora ensina. Outros não conseguem estar sentados; saem do lugar e afiam os lápis vezes sem conta. Outros fazem uma cara estranha que eu acho que é mesmo por não perceberem. E ainda há alguns que entram tristes na sala, por isso talvez andem com problemas. Todos eles ficam contentes com a luz verde, mas é tão raro que até fazem de conta que não se importam. Mesmo assim, nesses dias parecem carros novos, silenciosos e velozes.
Mas esses momentos são mesmo muito raros, porque para eles o semáforo está quase sempre vermelho, porque saíram do lugar, falaram demais ou erraram uma conta. Sendo assim, param e estacionam. É bem mais prudente estacionar um carro avariado do que partir por aí aos solavancos, parar no meio da estrada e não conseguir sair do lugar, enquanto todos à volta apitam, reclamam, ou, simplesmente, acham engraçado… |
Associação Pais e Amigos HABILITAR