paishabilitar/ Setembro 15, 2019/ Diário de Aveiro, opinião inclusiva
Queres brincar comigo? Eu quero brincar contigo!
Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro
Sou Terapeuta da Fala e tenho o privilégio de ter exercido funções em diferentes contextos (escolas, clínicas, domicílios), com diferentes interlocutores e, mais importante, ter adequado e assumido diferentes abordagens (centrada no diagnóstico da criança, na própria criança, na família…). Esta diversidade de aprendizagens permitiu-me chegar ao que considero ser o mais importante no processo de intervenção: o desenvolvimento das crianças é surpreendente; as sessões de intervenção servem para testar métodos/estratégias potenciadoras de competências específicas, e são frutíferas quando implementadas por intervenientes significativos, no seu contexto natural, resultando na aprendizagem de uma competência que aumenta o nível de funcionalidade e de autonomia; os educadores envolvidos na intervenção são essenciais para a nossa criança e a sua capacitação repercute-se em centenas de horas com a nossa e outras crianças; os pais são SEMPRE os principais promotores do desenvolvimento e TODOS têm condições de assumir um papel ativo.
As influências interativas são consideradas como veículos promotores do desenvolvimento cerebral resultante das interações da criança com as suas famílias, outros prestadores de cuidados e a comunidade em que se insere. Sendo a plasticidade neuronal uma característica dos primeiros anos de vida, que vai diminuindo com a idade, é essencial aproveitar as “janelas de oportunidade”. Estas devem ser cuidadosamente direcionadas para o desenvolvimento dos circuitos cerebrais que não executam as suas funções da forma esperada, principalmente em crianças com padrões de desenvolvimento atípicos. Assim, perante a existência de dificuldades, importa garantir que, desde cedo, é facultada à criança uma intervenção que vá no sentido da prevenção de resultados negativos e da maximização de oportunidades de desenvolvimento. Importa investir no apoio às famílias e na identificação de recursos que respondam às necessidades das mesmas.
É neste cenário que entra o terapeuta da fala, técnico privilegiado no conhecimento da área da linguagem e outras perturbações, que avalia e intervém com o objetivo primordial de identificar as necessidades da criança e da família e capacitar os pais para a melhoria e/ou colmatação das mesmas, o que pode fazer toda a diferença! No contexto de sessão o terapeuta da fala implementa métodos e partilha estratégias. Esta intervenção tem por base o conhecimento de como se processa o desenvolvimento da criança, tendo consciência de que a criança aprende quando estão reunidos vários fatores: o envolvimento, que se traduz no interesse com que a criança interage com o terapeuta da fala e o interesse que manifesta pelo ambiente e estratégias utilizadas na sessão (recursos materiais, brincadeiras físicas, conversas…), o suporte, que consiste em facilitar à criança ferramentas que lhe permitam explorar e participar com sucesso no ambiente e as interações. Assim, não só é possível como é essencial que esta intervenção tenha um início precoce. Contudo, neste cenário, não cabe ao terapeuta o papel principal. Nas sessões, pais e outros cuidadores partilham preocupações, necessidades e são capacitados e envolvidos para que possam compreender as competências da criança e promovê-las nos contextos naturais.
Teresa Póvoa
Terapeuta da Fala, APAH