paishabilitar/ Junho 10, 2019/ Diário de Aveiro, opinião inclusiva

Sim, tenho Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção. E depois?

Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro

Elas são conhecidas por não pararem quietas, por não prestarem atenção ao que é importante e por serem impulsivas, agindo sem pensar.

“Na escola sou bastante popular, mas nem sempre pelos melhores motivos. Faço amigos com facilidade, mas dificilmente os mantenho porque gosto de impor as minhas regras. Quando me perguntam quem são os meus amigos, nomeio todas as crianças da turma, sem excluir nenhuma. Por vezes, para chamar a atenção, viro “palhaço”. Quando me desafiam a fazer disparates geralmente não recuso. O meu pai costuma dizer qualquer coisa como “tristezas não pagam dívidas”, e eu concordo!

Dizem que sou hiperativo, mas o meu pai diz que o mundo só evolui com pessoas ativas/energéticas. Acusam-me de sonhar acordado; de ser distraído, embora por vezes consiga ver o que aos outros passa despercebido; que sou esquecido, quando evito é listas intermináveis de coisas para fazer; que perco coisas, quando afinal vivo desapegado de bens materiais; que falo demais, quando não passo de um apaixonado por ideias/interesses; que interrompo os outros, quando estou é ansioso por partilhar ideias; que ajo como se não ouvisse, se o que faço é afastar-me de tarefas chatas; que não me concentro na escola, mas que posso passar vários níveis seguidos de um jogo sem me aborrecer (quem é que mantém a atenção quando não há interesse?!).

Há quem ache que me julgo perfeito, pois pareço estar sempre certo, enquanto os outros estão errados. Quando erro, digo que foi porque alguém se explicou mal ou porque aquela regra não era bem assim. Mas nesses momentos, eu estou é a vestir uma capa mágica para enfrentar as reacções negativas dos outros. No outro dia, ouvi a minha mãe dizer ao meu pai que a minha professora me acha inteligente, mas que não acabo o que começo, não completo as atividades, não espero pela minha vez. Se ao menos pudesse falar o que sei sem fazer testes que parecem quebra-cabeças!”.

Ver os sintomas da PHDA de maneira mais positiva faz com que o seu impacto nas crianças seja menor. Para ajudar estas crianças e adolescentes, é fundamental compreender que muitas das dificuldades que apresentam são decorrentes da sua condição de base – a PHDA.

Depois de compreender, é necessário empatizar, assumir o papel do outro, percecionar como se sente. Empatizar e compreender não significa desculpabilizar ou ser permissivo. Implica confrontá-los com as consequências das suas escolhas e atitudes através de um espírito cooperativo de resolução de problemas, de críticas construtivas sem juízos de valor e generalizações. Estas crianças têm de fazer um esforço extra para corresponder às expetativas dos outros (e às suas), um esforço que nem sempre é proporcional ao resultado. E claro, é essencial enfatizar as caraterísticas positivas que têm e as áreas de desempenho em que são competentes. 

Sara Jesus

Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora da APAH

in DA:05/06/2019

Share this Post