paishabilitar/ Junho 19, 2020/ Uncategorized
Intervenção Psicomotora em tempos de COVID-19
Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro
Diante do cenário que vivemos, as nossas crianças deixaram temporariamente de ser acompanhadas, de modo presencial, no Habilitar. A solução passou pelo acompanhamento “on-line” e o desafio foi colocado aos pais, que não hesitaram em aceitá-lo! Hoje, a maioria das crianças encontra-se nesta modalidade de intervenção.
Provavelmente o relacionamento terapêutico já existente veio facilitar este processo, pois sabemos que a presença faz confiar. Na Psicomotricidade utilizamos o corpo como ferramenta, pelo que nada substitui o toque, o sentir, o experienciar. A forma como comunicamos foi alterada: exageramos aspetos da comunicação verbal e não-verbal – sorrimos mais, fala mos mais, fazemos mais gestos – como uma necessidade acrescida de nos fazermos ouvir e notar; e inventamos formas de cumprimento virtual.
Considerámos, desde o primeiro instante, que este modelo de intervenção teria de ser implementado para manter parte da rotina e do ritmo, bem como continuar a estimular as funções cerebrais que auxiliam na aprendizagem. Cada criança tem um horário definido para a terapia, um espaço específico e, geralmente, um adulto ao seu lado. Ao técnico cabe a função de se reinventar, adaptar e ser criativo, tirando todas as potencialidades do contexto em que a criança está inserida e dos recursos que tem à sua volta.
Torna-se premente incluir os objetivos terapêuticos nas tarefas do quotidiano: o D., que necessita de trabalhar a coordenação e a destreza manual, um dia destes, teve como missão dobrar os guardanapos de uma forma artística, partilhando com satisfação o seu trabalho exposto na mesa do almoço; a R., com quem se trabalha a autonomia, depois de termos criado um tutorial de como lavar a roupa na máquina, quis mostrar com entusiasmo a sua competência ao desempenhar a tarefa; a C., após uma birra, apenas se acalmou quando viu o animal de estimação da técnica, uma gata que, por ser malhada, lhe pareceu uma vaca. Hoje, o seu cão é também chamado a participar nas sessões com grande sucesso.
A relação terapêutica continua a cultivar-se, mas de forma diferente, porque agora entramos na casa das crianças através de um ecrã, e elas, euforicamente, mostram-nos os seus brinquedos, dos quais tentamos tirar partido trabalhando, disfarçadamente, alguns objetivos.
Cada criança tem as suas especificidades. Umas passarão esta fase de forma mais penalizadora, outras menos. Cada perturbação do neurodesenvolvimento tem prejuízos em diferentes áreas, diferentes comorbilidades e, portanto, diferentes necessidades.
Com o apoio à distância, pretende-se minimizar possíveis retrocessos e o agravamento de algumas situações. Por vezes, a intervenção não se centra apenas no apoio direto à criança, mas também nos restantes elementos da família, facilitando e respeitando a dinâmica familiar. Desenhar programas para serem aplicados por terceiros, geralmente pelos pais, permite manter uma continuidade da intervenção. É importante sugerirmos atividades que se transformem em momentos de brincadeira, de jogo e de interação entre todos. Isso, por si só, poderá ter consequências positivas a nível emocional, quer para a família, que se sente “capaz” e envolvida, quer para a criança sobre a qual recai a atenção, sentindo-se mais motivada e, consequentemente, mais empenhada.
Os pais deverão ser o elo de ligação entre todos os intervenientes do processo educativo, facilitando a consolidação de aquisições. Nesta fase em que vivemos, o sucesso da intervenção passa, ainda mais, pela aliança e colaboração com os cuidadores revelando mais uma vez a necessidade HABILITAR a família! |
Sara Jesus*
*Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora da APAH