paishabilitar/ Julho 13, 2020/ Uncategorized

Mulherzinhas

Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro

Quando tinha 5 anos eu era a irmã mais nova. Brincávamos às professoras e eu era sempre a aluna, porque a minha irmã  sabia mais. Ensinava-me posições e passos de hip hop e foi por querer seguir o seu exemplo que, depois de suplicar durante anos, finalmente a minha mãe me fez a vontade e me inscreveu também na dança.

Tinha muito orgulho em ser irmã da Maria e não perdia uma oportunidade para estar com ela, embora muitas vezes a minha companhia não fosse muito desejada pelo seu grupinho de amigas da escola. A minha irmã era o meu maior exemplo e eu queria ser tal como ela.

O tempo passou para as duas, mas a velocidades diferentes. Quando eu cheguei aos 10 anos, eramos quase da mesma idade. Tínhamos gostos muito parecidos, embora raramente nos déssemos bem. Ambas seguíamos religiosamente os Morangos com Açúcar e não perdíamos uma novela da TVI. Até chegámos a ir juntas a um concerto dos D’ZRT.

Hoje tenho 22 anos e já deixei de ser a irmã mais nova há tanto tempo. Aliás, sou agora a irmã mais velha, quase mãe e tutora da minha irmã de 30 anos. Por vezes esqueço-me disso e alguns dos comportamentos dela ainda me deixam envergonhada, constrangida ou irritada. Por vezes preferia não ser a mais velha, mas depois lembro-me de que ela é como o Peter Pan e vai ter sempre 13 anos. Tento não a provocar, picar ou por à prova. Remedeio a nossa relação sempre instável e facilmente incendiável, com gelados, guloseimas, roupas bonitas, filmes e passeios. Tento ter 13 anos outra vez, comento as séries ou novelas de que me vou lembrando e mostro interesse pela vida dos famosos. Tento disfarçar, parecer credível no meu interesse mas já pouco temos em comum…

Eu pude crescer, acabei a universidade, tenho carta de condução, um grupo de amigos, a minha independência e autonomia. A minha irmã não.

Não conheço muitas pessoas que, como eu,  sejam os irmãos mais velhos dos seus irmãos mais velhos. Ou talvez  até conheça, mas não é algo de que se fale facilmente ou se queira partilhar.

Embora a nossa relação ainda seja para mim bastante desgastante, e um desafio que às vezes acho inultrapassável, tenho esperança que com o passar do tempo, eu venha a ficar muito mais velha do que a minha irmã. Tão velha como uma avó. Talvez consiga finalmente tratá-la com paciência e carinho, sem exigências nem expetativas inatingíveis. Nessa altura seremos tranquilamente amigas.

Irmã da Maria

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