paishabilitar/ Março 24, 2021/ Uncategorized

Laços e abraços

Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro

Os teus 12 anos passaram por mim e eu continuo a admirar-te como se te visse pela primeira vez. Poderia escolher não te chamar pelo nome, mas isso seria mentir sobre ti, João.

Em março de 2009, encontrei à espreita da tua casa, irmã, uma parte de nós, embora desconhecida, sem conseguir dar-lhe um nome se não medo.

Tinhas passado à categoria de “mãe” e passado por um mau momento. Um dia estavas feliz e no dia seguinte em situação crítica. Tu e o meu sobrinho. Os pais tinham atravessado o Atlântico longe de imaginar o que por aqui acontecia.

Suspendemos o tempo, tentámos parar as angústias e aguentar a sua chegada e a vossa amaragem. Estávamos todos em estado de sítio.

Quatro meses volvidos, com muita tensão emocional, e era dia de ti. Era o dia em que, finalmente, as emoções e os abraços do amor em casa seriam, por fim, realizados. Foi uma entrada em casa aos soluços. Senti muito medo, não pelo meu sobrinho, mas pela vulnerabilidade e pequenez humana que estavam em mim, mais intensas do que nunca. Foi, talvez, o ato de contrição mais forte que senti até hoje. Pus em mim, a irmã, o pai, os avós e senti que nenhum era tão forte como tu e, assim, superei o temor. Durante muito tempo, à parte as frágeis crenças de fé que tenho, achei que estavas connosco por saberes que precisamos muito de ti. E assim é, ainda, hoje.

Nos anos que se seguiram, todos nós chegámos a um lugar onde se aprende a toda a hora e instante. Estudámos muito, dedicámo-nos com afinco ao desconhecido, demos tempo ao medo, às brigas por amor e ao cansaço. Mas ainda assim, não obtivemos nenhuma certificação. Continuamos sempre em aulas, mas de forma mais sábia, mais tranquila.

Desses momentos difíceis, saltámos, em 12 anos, para uma posição de orgulho, onde o medo não é mais quem nos ensina, mas a certeza da tua perseverança, da tua generosidade, da tua doçura e educação. Estamos todos mais fortes, por ti. E embora as dificuldades persistam, a união fá-las sempre mais altas.

E sim, o que torna ainda mais forte o teu escudo, chama-se Mana. Não podias ter tido mais sorte. Fica à escuta de ti, olha-te com admiração e espanto e depois abraça-te com os seus olhos castanhos, numa frase que diz, silenciosamente, tenho orgulho em ser tua irmã.

Recentemente, a corrente que nos liga e nos torna tão cúmplices de ti, foi interrompida. Passámos a não poder beijar-te, abraçar-te ou simplesmente olhar de frente para o teu doce olhar. Desviámo-nos do teu corpito singelo mas não de ti. Temos um desejo enorme de te ver, para que, na verdade, nos vejas sempre ao teu lado. Talvez uma vontade egoísta, mas foi assim que todos conseguimos. 

Para todos os momentos de distância e de saudade, servem as memórias imensas e intensas, de uma caminhada lado a lado, sempre contigo na mão.

Tua Tia

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