paishabilitar/ Janeiro 19, 2021/ Uncategorized
Devagarinho, devagarinho… mas chega lá
Crónicas inclusivas: Uma parceria Pais Habilitar e Diário de Aveiro
Não, não chega!
Não se trata de conformismo, negação, nem mesmo pessimismo. É assim, e prefiro sempre esta perceção realista. O que vier melhorado será uma agradável conquista.
O meu filho é multideficiente. Isto é… tem múltiplas deficiências. Tem um défice cognitivo acentuado, e tudo o resto que daí advém. Podia, como muitos, dizer que tem um grande atraso de desenvolvimento, mas atraso pressupõe chegar, mas mais tarde… e o que eu pensava ser apenas um atraso é um enorme compromisso da compreensão, da expressão, do equilíbrio corporal, da autonomia, etc. É uma criança diferente, será sempre um jovem, e mais tarde um adulto com tantas dependências, tantas necessidades e provavelmente muito pouca autonomia para as suas necessidades humanas básicas.
Das primeiras afirmações que ouvi face a um inexistente prognóstico foi: Quanto mais estímulos ele tiver, mais respostas poderá dar. Esta sim, é uma grande verdade. Contudo, as respostas dele serão as possíveis, não as que eu desejo ou as descritas numa criança dita normal.
O D é um menino extremamente acarinhado, muito feliz e com um suporte familiar fantástico. Mas mesmo com esta rede segura, é no seu seio familiar que residem os muitos passos desta longa, ingrata e difícil caminhada.
Quando os avós vêem o D a esboçar puxar as calças para cima (para as vestir) lá dizem: Que bom! Devagarinho, devagarinho… mas chega lá. O que eles não sabem (talvez nem queiram saber. Para quê? Não presenciam todos esses passos) é que por trás daquele esboço duma tarefa que para os outros meninos é quase inata e inconsciente, estão dezenas de tentativas falhadas, está a persistência dos pais em inúmeras vezes por dia, nas suas actividades quotidianas, insistirem com o filho e lhe ensinarem o movimento de puxar as calças para cima. Mesmo que ele não faça ideia do que está a fazer, e mesmo que ele ofereça resistência.
E agora repliquem isto para tantas outras tarefas, tantos outros autonomismos essenciais e necessidades básicas.
E assim ele chega… chega onde chegar. Sempre a tentar chegar o mais longe possível!
Mãe do D
Associação Pais e Amigos Habilitar