paishabilitar/ Novembro 7, 2018/ Diário de Aveiro, opinião inclusiva
Eu sou os teus olhos
Crónicas inclusivas: Uma parceria
Pais Habilitar e
Diário de Aveiro
«Eu sou os teus olhos
e tu és os meus ouvidos;
eu sou a tua boca
e tu és as minhas pernas»…
My Dream*
Na luta pela inclusão das pessoas portadoras de deficiência, algumas linhas estratégicas se impõem como pressuposto da acção. Uma, centrada na vertente técnico-científica da própria intervenção, trabalhando-se aí a dimensão interdisciplinar, e não apenas multidisciplinar, de que ela não pode prescindir, seja na fase de elaboração teórica do modelo, seja nas da sua programação e da sua aplicação. Aqui assume cada vez mais a nota de urgente, uma competente e eficaz estratégia no domínio da intervenção precoce.
Outra linha, incidindo sobre a comunidade na sua organização, privilegiando os contactos com as redes sociais e envolvendo, comprometidamente, as estruturas próprias do poder autárquico, ao nível dos concelhos e das freguesias. Só assim parece ser possível assegurar o êxito, já de si tão contingente, de um projecto autêntico de políticas inclusivas.
Finalmente, outra linha, actuando ainda na comunidade, mas agora agindo sobre os seus membros enquanto cidadãos, dando-se aí particular ênfase à necessidade de informação e de formação.
É que muito se joga no campo, aparentemente insignificante, dos pormenores. E, também nesse ponto, o ambiente social e humano desempenha um papel que pode tornar-se decisivo.
Desde logo, aceitando-se deixar de reduzir a pessoa à deficiência e de acentuar a sua condição de ser deficiente, para, antes, a libertar enquanto ser autónomo, apenas portador de deficiência. Assim se evita transformar o rótulo, ou a etiqueta, em instrumento de identificação ou, pior, de identidade. Assim se pode convocar a comunidade de cidadãos a assumir-se como espaço natural de inclusão, hábil a reduzir o estigma e a promover a mudança.
Esse constituirá, aliás, o pano de fundo privilegiado para a adopção conseguida de verdadeiras estratégias de empowerment, sempre na ideia de «que as pessoas são responsáveis pelas suas próprias vidas e que poderemos enfrentar a nossa própria problemática e tudo o que nos é difícil, sem precisarmos de ser vítimas»…, tornando-nos, inclusivamente, nas palavras de Patrícia Deegan, «agentes do nosso próprio processo de reabilitação» e de inclusão.
Tudo, enfim, sempre determinado pela convicção de que importa sobretudo a procura de uma nova centralidade reconhecida à pessoa, qualquer que seja a sua idade ou condição, e perante a qual a exclusão social surge não apenas como negação da cidadania mas, mais do que isso, como negação da própria pessoa e da sua dignidade enquanto tal.
Este é, pois, um propósito radicalmente ético que deslustra aqueles que, podendo abraçá-lo, dele se distanciam, dando palco à indiferença, negando, dessa forma, o inegável valor do outro.
Álvaro Laborinho Lúcio
Patrono da Associação Pais e Amigos Habilitar